Terror ecológico à la capixaba

15:37:00 Postado por ABD Capixaba



Uma combinação do terror com o discurso da preservação ambiental é a marca do filme Mangue Negro, do cineasta da aldeia de Perocão, em Guarapari (ES), Rodrigo Aragão. A produção foi premiada em festivais de cinema latinoamericanos e no Brasil. Recentemente, o filme também foi convidado pela Fundação Cultural da Bahia para encabeçar uma mostra de produções capixabas em Salvador. Na entrevista concedida ao blog da ABD&C-ES, Rodrigo Aragão fala da sua história com o cinema, das suas referências e de como se dá a produção do seu trabalho.


ABD: Quem é Rodrigo Aragão?
Rodrigo Aragão: Posso dizer que eu sou um cara que realizou seu sonho de infância. Eu nasci em uma aldeia de pescadores chamada “Perocão” um lugar belíssimo com mar, manguezal rodeado de montes e montanhas e cheio de historias e personagens fantásticos. Perocão, fica na cidade de Guarapari.

ABD: Como aprendeu e quando resolveu trabalhar com cinema?
R A: Meu pai era dono de um cinema e mágico, meu irmão mais velho era artista plástico, então arte, cinema e ilusionismo sempre fizeram parte de minha vida. Que mudou quando assisti um documentário sobre a produção do “império contra ataca” ali percebi que a profissão mais legal do mundo era produzir efeitos especiais, o gosto pelo terror veio com o tempo, sempre adorei monstros, os filmes dos anos 80 marcaram definitivamente minha vida, como A Hora do Espanto, A Volta dos Mortos Vivos, Evil Dead, Alien- o resgate. Os monstros exagerados, os banhos de gosma e efeitos artesanais típicos dos filmes “Splatter” me encantam profundamente.

ABD: Qual foi a sua primeira experiência com o cinema?
R A: Meu desejo de fazer curtas de terror começou na infância, eu chamava crianças para brincar de fazer filmes (sem câmeras), na adolescência fiz as primeiras tentativas com filmadoras emprestadas, mas, nunca deram certo, sempre algum ator desistia ou o dono da câmera a levava embora. Minha primeira experiência profissional com cinema foi em 1994, quando eu tinha 17 anos, no curta A lenda de Proitnier, de Luiza Lubiana, eu fui responsável pelos efeitos especiais em maquiagem.
ABD: Como se deu essa vontade de criar monstros desde a sua infância?
R A: Sempre achei um monstro babando a coisa mais legal do mundo!

ABD: Por que optou pelo cine de terror?
R A: Acho o gênero extremamente difícil de ser realizado, (qualquer deslize vira uma comedia involuntária), sem contar que é realmente muito divertido, também abre um leque muito bom para efeitos especiais, que é minha especialidade.

ABD: O seu filme Chupa Cabras ganhou o Mostra Produção Independente - Cinema de Bordas (2006). Na sua opinião, esse premio foi um ponta pé na sua carreira?
R A: O Chupa Cabras aconteceu mais ou menos assim, após muitas tentativas frustradas pensei em fazer um vídeo mais simples possível, com poucos atores, sem som, em preto e branco todo filmado no sitio de minha família em apenas um final de semana. Mesmo assim o vídeo sempre fez um enorme sucesso por onde passou, ao total ganhei seis prêmios com ele, com certeza isto me animou a continuar no caminho.

ABD: Depois de Chupa Cabras você rodou Mangue Negro. Como foi realizar essa produção?
R A: Mangue Negro surgiu como um curta de 15 minutos, que ia ser rodado nos fundos da minha casa. Aí, com poucos minutos rodados, mostrei o material para o meu amigo Hermann Pidner, quem decidiu financiar o filme. Começamos a fazer um longa. Sempre filmando no quintal, com amigos, quase sem possibilidades de fazer uma pré-produção ou ensaios das cenas. Além disso, mesmo com a ajuda financeira, continuamos com baixíssimo orçamento, por tanto, tudo mundo trabalhou em regime de mutirão, motivo pelo qual eu só tinha os atores e a equipe técnica disponível nos finais de semana, assim, levamos 3 anos para fazer o filme.

ABD: A sua produção foi feita com baixo custo e de modo independente. Isso foi uma opção?
R A: Foi a única maneira. Fiz o filme da forma em que me foi possível fazê-lo.

ABD: Onde, como, e de que forma se deu a produção deste filme?
R A: No quintal da minha casa e no manguezal, que corta a aldeia de pescadores de Perocão e o bairro Jabaraí, no município de Guarapari, no Espírito Santo.

ABD: Se pudesse resumir em poucas palavras... Como você se avalia como diretor?
R A: Sou um cara perfeccionista e muito chato.

ABD: Como foi a recepção da crítica e público capixaba ao “Mangue Negro”?
R A: Mesmo sendo um filme feito para fãs de terror, mas o público em geral sempre se diverte muito, acho que é um reflexo do quanto a gente se divertiu fazendo o filme. Além disso, o público capixaba pode se identificar com a paisagem e a linguagem usada no filme, pois usamos muitas coisas que são bem regionais.

ABD: É possível nos contar, de maneira resumida, o histórico de premiações do “Mangue Negro” desde que ele foi lançado?
R A: Prêmio Melhor Filme pelo Júri Popular, nos festival Buenos Aires Rojo Sangre (Argentina).
Prêmios de Melhor Diretor Estreante e Melhores Efeitos Especiais, no festival Santiago Rojo Sangre (Chile).
Prêmios de Melhor Filme e Melhor Atriz (Kika Oliveira) no Omelete Marginal (Espírito Santo) de 2008.
Prêmio de Melhor Filme Latinoamericano, no festival SP Terror de 2009 (São Paulo)

ABD: Na sua opinião ao que se deve esse reconhecimento?
R A: Os fãs de terror relevam problemas técnicos quando o filme é divertido e empolgante, imagino que seja por isso que o Mangue Negro tem essa boa recepção do público. Também temos a questão do regionalismo, a nossas paisagens e linguagem tornam o filme extremamente original, especialmente para o público estrangeiro.

ABD: A questão ecológica, assunto que aparece no “Mangue Negro”, é uma preocupação política sua ou era apenas um elemento do roteiro?
R A: Eu moro numa aldeia de pescadores (Perocão) um lugar muito rico em recursos naturais, que vêm sendo dizimado sistematicamente durante décadas, e eu vejo como isso afeta a vida da sociedade na qual eu vivo. O que acontece com as personagens do filme, se transforma numa parábola do que realmente acontece na atualidade com a população da região.

ABD: Como você avalia o mercado de produção audiovisual capixaba?
R A: Não só capixaba, mas o mercado brasileiro é extremante fechado e bitolado. O reflexo disso é que o Mangue Negro conseguiu distribuição na Alemanha e na Holanda e ainda não conseguimos lançar nas locadoras do próprio país de produção.

ABD: Já está produzindo algo ou tem projetos de realização já definidos?
R A: Estou cuidando dos efeitos especiais de um longa, chamado Contos Macabros, e em 2010 espero começar as filmagens de um longa chamado A Noite do Chupa Cabras.
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